Em dezembro deste ano de 2021 fará vinte e três anos que eu e meu marido nos conhecemos. É incrível como o tempo passa rápido e a gente nem se dá conta, mas
basta vir uma lembrança e toda história vem à mente com uma força
extraordinária.
Naquele dezembro de 1998 fui à faculdade para ver
notas, afinal, era final de semestre e queria logo entrar em férias. Olhei as
notas e encontrei dois colegas que nunca tinha visto (era meu futuro marido e
um amigo dele, que inclusive foi nosso padrinho de casamento mais tarde).
Cumprimentamo-nos cordialmente e trocamos poucas palavras, mas foi ali no átrio
do prédio da Faculdade de Direito de Passo Fundo que nossos olhares se cruzaram
pela primeira vez. Fiquei tão atrapalhada ao fixar meu olhar naqueles olhos
verdes faiscantes pela primeira vez que não consegui assimilar o nome dele,
acreditem, não conseguia lembrar o nome dele e dali em diante, nas conversas
entre as amigas, ele foi 'batizado' de ‘Verdinho’, por conta da camisa
verde que ele usava.
Engraçado que mesmo atordoada com a situação, não
esqueço da roupa que eu estava: uma camiseta baby-look rosa pink e calça 'bailarina' preta (Senhor! Piedade!) e ele, garboso como sempre, estava vestido
auto-esporte com a tão falada camisa verde xadrez, que até hoje tenho ela
vívida em minha memória.
O tempo passou e não o vi mais por um longo
período. Achei que ele fosse aqueles colegas de cidades do interior, que só
vinham pra cá na hora das aulas e que cursasse no turno diverso ao meu, pois
nunca o encontrei em nenhum local. Como para tudo tem o tempo certo, hoje sei
que aquele momento não era o certo pra nós iniciarmos um relacionamento, ambos
estávamos organizando nossas vidas para um futuro que acredito que já estava
escrito pra nós e que nós sequer imaginávamos.
Em 29 de outubro de 1999 – quase um ano depois,
quem diria que iríamos nos encontrar novamente! Era uma quinta-feira quente,
saí da aula (cursava faculdade à noite) e eu uma amiga fomos dar uma
‘passadinha’ no Boca – point dos
universitários da época. Ao chegarmos, assim que o vi, já senti aquela
adrenalina. Eu, logicamente, não o tinha esquecido. Trocamos olhares, mas nada
além disso. Como era quinta-feira e no dia seguinte eu teria de trabalhar cedo,
às 23h eu ‘virava abóbora’, como costumávamos dizer. Ao sair, vi que ele me fez
um gesto como que me dizendo que era cedo. Mas, fazer o que?!?
Frustrada, fui para casa e segui minha rotina
corrida de estudante e estagiária, mas ele não me saía dos pensamentos. Afinal,
agora eu sabia que poderia encontrá-lo novamente. Alguma coisa me dizia que não
era só um colega charmoso e um simples flerte.
Na tarde seguinte eu tinha meus compromissos de trabalho
e um deles era de ir ao Fórum. Antes de ir, passei numa loja para fazer um
favor para meu pai. Entrei na loja, deixei as mercadorias, falei com o vendedor
e saí. Nem olhei para os lados. Nem vi quem mais estava na loja. Só se eu não
me conhecesse, pois sou bem assim, sempre correndo e focada no que estou
fazendo... mas, se eu tivesse dado uma olhadinha, teria o visto ali... bem
pertinho de mim.
Chegando ao Fórum, fui resolver minhas coisas e uma
delas dependia de ir no Posto da OAB pegar a movimentação de alguns processos.
Sim. Ainda não existia pesquisa on line dos processos e
tínhamos que pegar o movimento atualizado na OAB antes de nos dirigirmos às
Varas. Foi a minha sorte e logo descobri que eu estava certa, nosso encontro
não tinha sido uma simples paquera.
Eis que ele me viu na loja, obviamente, e foi atrás
de mim até o Fórum e assim já realizava suas atividades profissionais também.
Confesso que quando senti seu toque no meu ombro e o vi, mal acreditei e minhas
pernas quase fraquejaram. Aproveitei os processos que eu tinha nos braços pra
disfarçar o nervosismo. Sinto até um calor no peito hoje ao recordar esses
detalhes, é incrível como sentimentos bons não abandonam nossas memórias.
Quando ele me perguntou ‘aonde vamos hoje’?
Apesar de ter ouvido bem o ‘nós’, nem titubiei e respondi imediatamente que ‘acho
que nós vamos no Boca novamente’! Ao que ele me respondeu ‘está bem, até
à noite’! Que jeito mais estranho de marcar encontro, mas eu amei e saí
dali com o coração aos pulos, até porque às vezes as coisas dão certo de um
jeito estranho ou inesperado. Já comecei organizar meus horários: sair do
escritório, ir pra casa, tomar banho, me arrumar, ir na aula, pegar minhas
amigas e finalmente ir ao Boca! Haja cabeça pra trabalhar o resto
da tarde. Saí do fórum e passei na loja que minha amiga trabalhava e já
combinei tudo. Agora bastava segurar a ansiedade até às 22h30min que era o
horário que terminava minha aula de sexta-feira. Ah, dessa aula da sexta-feira
não lembro sequer a matéria, mas a voz dele conversando comigo no Fórum, o
beijo leve no meu rosto, o seu perfume e os rumores das pessoas no entorno,
isso sim, ecoam na minha cabeça até hoje!
Chegando ao Boca, já o avistei. Lembro
tanto da roupa dele, quanto da minha. Ele, lindo e charmoso como sempre estava
com uma calça de sarja azul marinho e camisa. Chiquérrimo e gato como sempre.
Eu de saia vermelha e blusa branca, aproveitei colocar um salto altíssimo que
eu amava. Sem saber, estávamos num grenal invertido! De certa forma, acho que
acertei nas cores, pois agradei ao colorado que eu já estava apaixonada, e ele,
sem saber, estava com as cores do time (grêmio) que hoje confesso que abandonei
por amor.
Lá pelas tantas, ele veio à nossa mesa e
conversamos, saímos dar uma volta e naquela noite foi nosso primeiro beijo. Não
preciso dizer que depois dessa noite minha vida nunca mais foi a mesma, ou
melhor, essa noite foi a primeira noite do resto da minha vida! Tudo que eu
tinha no meu conceito de amor e paixão mudou ali. Parece piegas ou exagero, mas
não é. Ali eu sabia que rumo minha vida teria.
Parece impossível, mas no momento em que eu não
esperava encontrar ou conhecer alguém especial, eu conheci a pessoa mais
incrível e especial que eu poderia imaginar e conheci o amor de uma forma que
eu achava que não seria possível. Jamais imaginei que o amor seria um
sentimento tão forte quanto o que sinto por ele.
Encontramo-nos várias vezes depois dessa noite,
chegou o final do ano, ele se formou e a vida se encarregou de nos separar
temporariamente. Ele foi morar na capital para fazer cursos de aperfeiçoamento
e aprofundamento e eu continuei com a faculdade aqui em Passo Fundo, pois
faltava ainda um semestre para eu me formar. Nossos sonhos profissionais
estavam dando uma atrasada na nossa vida amorosa e dentre tantas expectativas
de trabalho, sonhos, dúvidas e medos, eu só tinha uma certeza: de que eu já
havia encontrado o homem da minha vida.
Foi um período bem difícil, com saudades, encontros
e desencontros, mas em 04 de fevereiro de 2001, finalmente o destino nos
colocou frente à frente e desse dia em diante não nos separamos mais.
Hoje olho para trás e vejo nossos 5 anos e 10 meses de namoro, 10 meses de noivado e quase 14 anos de casamento
como uma linda caminhada (faltam 4 dias para nosso aniversário de 14 anos de
casamento – Bodas de Marfim - dia 24/11/2007).
Casei apaixonada pelo meu marido e continuo
apaixonada. Aliás, estou cada dia mais apaixonada. O dia do nosso casamento foi
o dia mais feliz da minha vida. Um dia só nosso, um dia para celebrar o amor
verdadeiro, o nosso amor. Um amor sem cobranças ou obrigações. Um amor puro e
verdadeiro, um sentimento que eu não sabia que poderia ser tão intenso.
Cada dia é uma alegria nova e construímos uma vida
alicerçada no amor verdadeiro, companheirismo, amizade, cumplicidade,
fidelidade e lealdade. Já pensei em fazer uma tatuagem em nossa homenagem – e
olha que não sou simpatizante a tatuar o corpo, mas na verdade sei que nada que
marcasse minha pele seria mais forte ou profundo que a marca que ele fez em
minha alma. Sou completamente arrebatada por esse homem que há mais de vinte
anos apareceu na minha vida. Destino? Talvez, mas só sei que só tenho a
agradecer a Deus e a Nossa Senhora, por esse verdadeiro presente na minha vida.